quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

De Dentro Pra Fora



Eu comecei a ler o livro "De Dentro Pra Fora", da Juliane Pfeiffer, numa sexta à noite e terminei no domingo. Não queria parar de ler. É impressionante como cada frase e cada capítulo calavam fundo dentro de mim. E depois de alguns dias, releio e descubro uma nova resposta, um novo caminho, uma nova reflexão.

O depoimento lúcido, transparente e profundamente autêntico de Juliane falou de sentimentos, dúvidas, atitudes, propósito, erros e acertos na caminhada em busca do encontro consigo mesma. Inúmeras vezes, eu me vi em uma situação semelhante, com os mesmos anseios, dificuldades e a leitura acabou sendo uma leitura de mim mesma. Fui grifando, anotando e, principalmente, refletindo e fazendo um caminho de fora pra dentro.

Eu sempre amei ler! No entanto, de uns dois anos pra cá, diminuí a leitura de forma consciente para me conectar mais com meu coração, com minha alma, porque a minha mente sempre foi muito forte e acabava sendo uma habilidade e, ao mesmo tempo, um sabotador.

Lendo o livro “De Dentro Pra Fora”, resgatei a vontade de ler, sem medo, pois ali encontrei várias lutas e vi uma pessoa buscando a si mesma, procurando acessar sua alma e experimentando diferentes caminhos.

Sou grata a Juliane porque a leitura do seu livro foi uma experiência de conexão comigo mesma, com ela e com tantas outras pessoas que buscam hoje um encontro com quem verdadeiramente são e que querem construir uma vida com significado.

Nada nos emociona e nos inspira mais do que uma história de vida. Por isso, vou compartilhar trechos do livro que calaram fundo dentro de mim e qu,e da mesma forma que me ajudaram, podem ajudar outras pessoas no seu caminho de aprendizado. 

“Quando abrimos espaço para o vazio, a tendência é colocar outra coisa em seu lugar. Assim, nos desviamos novamente do caminho e continuamos na ilusão. Às vezes percebia depois de ter desviado e aí retomava a energia para voltar. Fui me aprimorando nessa vigilância e, muitas vezes, já percebendo as armadilhas do ego por vir, voltava para o eixo antes de me perder.”

Eu me vi nesta situação inúmeras vezes e me senti exatamente desta forma. E me perguntava: "por que cometo sempre os mesmos erros?". E a resposta da alma vinha: "porque ainda não aprendeu, Jamile". Hoje ainda luto muito para não me perder de mim, não deixar o ego falar mais alto do que a minha alma.

E aí me lembro de uma frase da Patrícia Gebrim, outra pessoa que com sua linguagem simples e profunda sempre me ajudou nesta busca da conexão com minha alma: Entregue seu ego para sua alma e deixe que ela cuide dele, amorosamente. Acho que quando isso acontece integramos LUZ e SOMBRA, esta dualidade que nos acompanha na vida e que faz parte do nosso aprendizado e busca de equilíbrio. 

A nossa LUZ vem da nossa ALMA e esta conexão acontece apenas quando reconhecemos o nosso EGO e o entregamos para nossa alma e nos conduzimos alinhados a ela.

“Havia uma armadilha na história do propósito, com a qual eu me deparei, que era buscar e compreender o que o mundo precisa, e não o que eu preciso. Patinei nessa ilusão do que o mundo precisa e me dei conta de que essa também é uma história do ego. Quando o ego faz pelos outros buscando reconhecimento, já não é verdadeiro. Quando realizamos nosso desejo de alma, acessamos uma luz dentro de nós que ilumina fora também.A essência emerge naturalmente quando estamos ancorados em nós mesmos e, assim, damos e recebemos verdadeiramente.”

Nós, mulheres, fomos educadas para pensar nos outros e, todas as vezes que pensamos em nós mesmas, nos sentimos egoístas. Isso é um condicionamento que recebemos de todos os grupos dos quais fazemos parte e para desconstruir esta atitude interna não é fácil e nas tentativas desta desconstrução vamos nos perder várias vezes. 

Quando fui a Findhorn em 2015, aprendi muito sobre a importância da conexão comigo mesma. Tudo começa por mim. Eu sou o ponto de partida para qualquer mudança que queira fazer em minha vida.

Fazer pelos outros buscando reconhecimento é outra luta insana.

A necessidade básica de qualquer ser humano é amar e ser amado. E as armadilhas do ego construídas em meu caminho de aprendizado para atender esta necessidade foram inúmeras, mesmo que de forma insconsciente. Daí esta necessidade de fazer pelos outros e querer ser reconhecida. Este reconhecimento na maioria das vezes fez com que eu me sentisse amada. 

Mas até eu reconhecer que não preciso disso para me sentir amada, que o AMOR está dentro de mim e que preciso deixar fluir porque esta é a natureza da minha alma, existiu muito “jogo” que meu ego e o de outras pessoas promovia para me controlar.

E eu só consegui ir me libertando quando comecei a tomar consciência e passei a me “monitorar”. E posso afirmar que esta luta é difícil e dolorida.

Toda vez que entrei neste jogo do ego, tinha uma sensação de mal-estar no final. Naquela hora que colocava a minha cabeça no travesseiro e vinha o pensamento: "de novo!" e um sentimento de tristeza e frustração que acompanha sempre estas situações. Hoje, esse mal-estar já aparece antes do final por causa da consciência que ganhei, mas ainda escorrego bastante.

“Querer acender a vela dentro do outro, ou seja, querer que o outro veja o mesmo que estamos vendo, drena energia e gera frustração. É preciso respeitar o momento de cada um, pois apesar de estarmos todos conectados, o processo de despertar é individual”

Quantas vezes eu vivi esta situação! O maior respeito e a maior prova de afeto é deixar que a pessoa trilhe o seu caminho de aprendizado, sofra suas dores, encontre a sua forma de vencer os obstáculos para que possa crescer e descobrir como pode e quer ser feliz. E não será do meu jeito, mas do jeito dela, com os recursos e as habilidades de cada um. Todo mundo tem o que precisa, mas precisa descobrir por si só.

Isto é claro e lógico ao ser falado, mas muito difícil de ser vivido porque novamente o ego entra em ação e os jogos que minam os relacionamentos prevalecem na maioria das vezes, promovendo conflitos, desarmonia e muita falta de amor. Várias vezes eu me senti responsável pelo outro e achava que podia e devia ajudar. Só que neste caminho eu me perdia e entrava novamente no jogo. E assim, as armadilhas foram se sucedendo até que não aguentando mais, tive que dar um “basta”. Não foi um basta, mas vários, sempre retroagindo e voltando para o mesmo caminho anterior. 

Muitas vezes os sinais vêm muito fortes com doenças que nos mostram que estamos cada vez mais nos afastando de quem verdadeiramente somos.

Eu vivi isso quando tive câncer várias vezes. E hoje enxergo esse período como o início do meu processo de libertação e o começo do caminho de volta ao encontro comigo mesma.

“E foi um vai e vem de estar consciente, voltar para o caminho e de me perder no ego. Aos poucos, as estruturas vão sendo desconstruídas. Desconstruir, desaprender, descondicionar, desapegar, permitir e deixar fluir.”

Eu vivi intensamente tudo isso nos últimos 17 anos de minha vida. 

Desconstruir comportamentos arraigados.

Desaprender e descondicionar atitudes que se tornaram hábitos.

Desapegar de tudo que me impedia de me libertar.

Permitir-me ser feliz naquele momento, fazer escolhas seguindo o meu coração.

E deixar fluir. Meu Deus, esta é a minha maior luta no momento: viver com leveza, sem controle, com muita entrega e fé, pois, com todos os erros e acertos, estou dando o meu melhor.

“Era tudo que eu estava fazendo de certa forma: olhando para os meus medos e espantando-os ou abraçando-os através da consciência. Perdoei-me, desfiz acordos e fiz novos. Prometi à minha alma que jamais a abandonaria. Para isso é necessário bancar a essência , em qualquer circunstancia, agradando ao outro ou não, sendo reconhecida ou não. Bancar a alma demanda coragem! Coragem de abrir mão do ego: estar em mim, para mim e por mim.É fácil? Não. É possível? Sim.

Não tem nada a ver com egoísmo, muito ao contrário. O respeito ao outro emana do respeito a mim mesma. O amor ao outro emana ao amor a mim mesma. O sacrifício gera ressentimento e cobrança. Quando nos comprometemos com nossa alma, estamos em paz. E em paz dentro, somos capazes de fazer paz fora.” 

Eu vivi muitos anos de minha vida desconectada com a minha alma, com muitos medos que me seguravam a uma situação em que eu não era feliz. E realmente isso gerou muito ressentimento, muita raiva que depois se transformaram em câncer e esta doença era um sinal para eu acordar. Foram várias vezes, porque se fosse apenas uma vez não teria sido suficiente. Hoje enxergo isso com clareza e sou grata pela doença ter se manifestado.

Juliane diz: a alma não gosta de ser presa. Ela é livre. E ela se manifesta quando damos espaço.

E isso eu sinto com muita intensidade neste momento que estou vivendo. Às vezes, fico indecisa quando tenho que decidir e escolher. Mas, uma coisa eu tenho certeza, sei muito bem o que eu não quero: não quero me perder de mim, eu não quero perder a conexão com minha alma. E manter esse movimento na vida de dentro pra fora não é fácil porque a realidade, os padrões que nos deparamos nos pressionam no sentido inverso: o foco é de fora para dentro e quem comanda é o ego.

São forças inversas como todas as dualidades que encontramos no dia a dia. E a nossa meta é integrar e inverter o processo e isso demanda erros e dores, idas e vindas.

Entregar é confiar. Confiar é agir com fé. Medo é ausência de amor, de confiança. Nossas ações no mundo material exigem empenho, mas não esforço.Quando necessito da força no sentido de esforço, para que algo aconteça, esta vontade vem do ego. É o querer a qualquer custo. E às vezes sacrificando-se a si mesmo.

Quando agimos com consciência, alinhados a nossa alma, aquilo que acontece é sempre perfeito. Por quê? Porque é verdadeiro.

Quanta energia perdi me esforçando para atender o ego. Uma exaustão e sensação de andar na areia movediça, sem sair do lugar.

Cada vez que ao caminhar eu percebia velhos padrões voltando era porque as coisas caminhavam de fora pra dentro.

Entrego, confio, aceito e agradeço. Quantas vezes eu mentalizei isso ao dormir ou acordar. E repetia como um mantra.

Acender a minha velinha dos anjos cada dia da semana, com uma intenção para mim porque eu precisava disso para apoiar a minha alma na grande transformação que precisava ser feita foi outro ritual que criei porque favorecia o encontro com minha alma.

Fazer minha ioga regularmente me dava e ainda me dá muita força para me desconectar da mente, do ego e me conectar com minha alma.

Todos estes recursos usei nos últimos anos. Nestes anos de desafios e dores, em que estava muito claro o que eu não queria: não queria me perder de mim de novo e isso eu defenderia a qualquer custo.