No livro Anticâncer – Prevenir e Vencer Usando as Defesas Naturais, o neurocientista e psiquiatra David Servan-Schreiber fala sobre o MEDO DE SER UM FARDO. Segue abaixo o material do livro, com algumas considerações minhas (em vermelho):
“Nós estamos mais habituados a cuidar dos outros do que receber suas atenções. E atribuímos muita importância à nossa autonomia. A ideia de uma lenta degradação em direção à morte aterroriza também por nos condenar a ser terrivelmente dependentes dos outros, justo no momento em que não temos mais nada para lhes oferecer.”
A humildade de aceitar ajuda e também a limitação que vivenciamos em qualquer momento de nossas vidas nos fazem pessoas melhores. Essa limitação pode ser desde algo simples até algo mais complexo. Situações simples como: não poder andar porque quebramos o pé ou não mexer os braços porque acabamos de fazer uma cirurgia até situações como alguém que por um acidente ou uma fatalidade perdeu a visão ou não pode mais se locomover e fica dependente de uma cadeira de rodas.
As situações transitórias funcionam como uma alerta para que prestemos mais atenção à forma como estamos vivendo a nossa vida, ao grau de satisfação que colocamos em tudo que fazemos, à gratidão por tudo que somos. E as situações mais complexas e que não são transitórias funcionam como um “tranco” que a vida nos dá para mudarmos a direção ou para descobrirmos a necessidade de olharmos além da aparência, para descobrirmos a força de superação que cada um tem dentro de si e que se faz necessária naquele momento.
“Contudo, nos últimos dias de nossa existência, temos que consumar uma das maiores tarefas de transmissão de toda nossa vida. Para cada um de nós, a ideia que fazemos de nossa própria morte vem geralmente dos exemplos que vivemos através dos falecimentos dos avós, dos pais, irmãos ou irmãs, ou de um amigo próximo. Essas cenas serão nossos guias quando nossa própria vez chegar. Se eles souberem nos mostrar como se preparar, como dizer adeus, como cultivar uma certa calma, nós nos sentiremos prontos e apoiados para esta última etapa da vida. Na nossa vez, quando nos aproximarmos da morte, longe de sermos inúteis, nós nos tornaremos automaticamente pioneiros e mestres para todos os que nos são próximos.”
Nesta semana que passou, faleceu a irmã de uma grande amiga de minha família e ao conversar com ela percebi que é possível morrer com dignidade e ainda deixar às pessoas que ficam, apesar da saudade, uma tranquilidade e a certeza de que tudo foi bem vivido.
“Também eu tive a oportunidade de ter uma grande mestra: minha avó. Reservada, falando pouco de si mesma, ela foi uma presença constante em todas as passagens da infância que me pareceram difícil. Quando eu ainda era apenas um jovem adulto, fui visitá-la no que nós dois sabíamos ser seus eu leito de morte. Inspirado pela beleza e pela calma da minha avó vestida na sua bonita camisola branca, segurei suas mãos dizendo o quanto ela fora importante para a criança que agora tinha crescido. Claro que eu chorava, sem saber o que fazer das minhas lágrimas. Ela recolheu com o dedo umas das lágrimas e me mostrou, sorrindo docemente: ‘Sabe, para mim, suas palavras e suas lágrimas são pérolas de ouro que eu vou levar comigo.’”
Em nossa vida, sempre existem os nossos grandes mestres, pessoas que são colocadas em nossas vidas que podem ser ou não da família, mas que vêm para nos ensinar alguma coisa que precisamos aprender naquele momento. Eu tive grandes mestras em minha vida. Em minha vida profissional, que considero minha missão, tive uma professora de faculdade, Iolanda Ribeiro Novais, que me convidou para dar aula na escola dela em Franca, o “Pequeno Polegar”. Ali foi onde dei os primeiros passos de minha vida profissional, sempre muito bem orientada por ela que, como eu, amava a educação e que fazia dela um caminho para ajudar as crianças a descobrirem o prazer em aprender. Ela me acompanhou durante muito tempo, mesmo depois que mudei para São Paulo e faleceu de câncer no seio.