quarta-feira, 24 de abril de 2013

Estado de Espírito Anticâncer



Uma das principais causas que faz “explodir” a produção de substâncias inflamatórias é o sentimento persistente de impotência, um desespero que não cede. Impotência é nunca expressar as emoções e quase nunca vivenciar uma profunda calma interior. Eu vivi o sentimento de impotência durante muitos anos de minha vida e tenho certeza que ele foi alimentado pelo medo, que bloqueia a nossa força vital. O medo me dominou por muito tempo, de forma inconsciente, e à medida que fui tomando consciência e resolvi enfrentá-lo, fui me libertando. Este é um processo longo e doloroso, mas o resultado compensa.

Personalidade do Tipo C
Pessoas com personalidade do Tipo C são as que, com ou sem razão, não se sentiram devidamente acolhidas na infância. Mais tarde, para se sentirem amadas, tornaram-se adultos que evitam conflitos e colocam suas necessidades e aspirações profundas em segundo plano. Para garantir a segurança emocional, podem superinvestir em um único aspecto de suas vidas: profissão, casamento ou filhos. Eu tinha muito dessa personalidade Tipo C e acredito que isso influenciou no desenvolvimento dos cânceres que enfrentei.

Mudança
Gosto muito da Análise Transacional (AT) como instrumento de autoconhecimento e como recurso terapêutico, e o que aprendi e vivenciei foi com uma grande amiga que foi minha terapeuta, Ana Lucia Paíga, hoje minha grande amiga. Por isso, vou usar a linguagem da AT em meu depoimento. Mudar comportamentos, desatar os nós que aconteceram em nossa experiência emocional na infância (enredo) é o grande desafio. 

Essa vivência totalmente emocional na primeira infância que ficou registrada em nosso inconsciente acaba influenciando nosso comportamento atual como se acionasse um piloto automático, trazendo emoções daquela época. A partir do momento em que tomamos consciência do nosso enredo e, gradativamente, nos libertamos dele, começamos a desatar os nós emocionais que nos prendem a comportamentos que tínhamos para nos sentirmos amados. Esta é a necessidade básica do ser humano: amar e ser amado. E todos nós, de acordo com o enredo formado a partir das influências familiares, adotamos atitudes da Criança Submissa ou Rebelde. Eu fui uma Criança Submissa e isso deu origem à personalidade do tipo C, ou seja, aquela pessoa que entra no “agrade” para se sentir amada, quer evitar conflitos, não sabe dizer não e que acaba sendo dominada pelo medo que leva a um sentimento de impotência e, consequentemente, no meu caso, ao desenvolvimento de um tumor.

Para auxiliar o processo da terapia, é preciso agregar experiências ou atividades ricas de sentido. A minha profissão sempre foi um aspecto forte, repleto de significado, realização pessoal e propósito. Continuar a realizar o meu trabalho, que era a chama acesa do Espaço Educacional que eu sempre investi e acreditei, me deu toda a força que precisava para enfrentar os tratamentos e reagir muito bem após cada cirurgia. Eu ainda brincava com os médicos: “Me deixa voltar a trabalhar que recupero logo”. E assim acontecia.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Libertação




Passado o primeiro momento, o da descoberta do câncer, com o tempo vamos nos dando conta de que a doença funciona realmente como uma espécie de LIBERTAÇÃO. Isso eu senti depois de mais uma reincidência, que me fez procurar um apoio terapêutico e tentar descobrir qual a causa da doença estar voltando. Não poderia mais fugir, passar por cima do que estava acontecendo e racionalizar.

Posso afirmar com muita segurança que, nesses 12 anos, fui me libertando de muitos dos meus medos, de tudo que me amarrava e me prendia por dentro. Resgatei a verdadeira Jamile, com os seus talentos e dificuldades. E até hoje continuo na luta constante para não me perder de mim.

Tive também a liberdade de escolher e decidir não fazer mais uma quimioterapia, uma vez que o meu tumor tinha 1 cm e, como disse meu médico oncologista, Dr. Sergio Simon, profissional competente e muito humano: “ Se o tumor tivesse 0,8 cm mandaria você para casa viver sua vida normal e fazer os exames de controle. Se tivesse 1,2 cm, a opção de uma quimioterapia não poderia ser descartada. Mas, como é 1 cm, a decisão é sua em fazer ou não a quimio”. No mesmo momento, decidi que não faria, pois tinha uma vida saudável, gostava de viver e achei que deveria correr o risco de viver menos, mas bem. Não precisei conversar com meu marido e meus filhos como ele havia me sugerido, pois essa decisão nasceu firme e segura, de dentro para fora, e era minha. Não hesitei, pois me senti segura e alinhada com meu interior.

Na sua opinião, o câncer pode ser uma libertação? Passou por essa experiência? Conte sua história!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Corpo Anticâncer



Você se lembra que, para se prevenir ou ajudar no tratamento, existe um tripé: Alimentação Anticâncer, Corpo Anticâncer e Estado de Espírito Anticâncer? Hoje, o assunto é CORPO ANTICÂNCER, que é o corpo em movimento e está diretamente relacionado ao desejo de viver.

Atividade Física
Muitos estudos demonstraram que os mecanismos de regulação e de defesa do corpo que lutam contra o câncer podem ser estimulados pela atividade física, porque reduz o excesso de gordura (estocagem de toxinas cancerígenas), modifica o equilíbrio hormonal (reduzindo o excesso de estrogênio e testosterona, que estimulam o crescimento de câncer), atua diretamente no sistema imunológico e diminui a taxa de açúcar no sangue e, consequentemente, a secreção da insulina e IGF (que contribuem para inflamação dos tecidos, que dissemina os tumores).

Tente atividades suaves. Exercícios de IOGA e TAI CHI CHUAN estimulam o corpo delicadamente, aprofundam e harmonizam a respiração e, portanto, a frequência cardíaca. Podem ser praticados por quase todos os pacientes que sofrem de câncer, seja qual for o seu estado. Praticar um método de autocentragem e tranquilidade lhe dará o equilíbrio necessário para viver bem. Vale dizer que meditação é uma técnica muito eficiente para quem está em tratamento.

Nunca fui disciplinada com a atividade física. Começava e parava. Meu marido era muito disciplinado e percebia-se o efeito positivo que o exercício tinha nele. Ganhei um mês de academia de presente dele no Natal e comecei a frequentar. No inicio, não me encontrava com nada e não tinha prazer em ir. Tudo melhorou na medida em que experimentei outras modalidades de exercícios, como PILATES e IOGA. Eu me encontrei totalmente e, dessa forma, consegui aliar o útil ao agradável. Até hoje, 10 anos depois, continuo minha atividade física de forma disciplinada e afirmo que não conseguiria mais viver sem ela.

Toque
O toque para quem está enfrentando uma doença permite uma reconciliação com o corpo machucado e o reencontro de um certo afeto por ele. Ao fazer fisioterapia com uma especialista em pessoas que passaram pela cirurgia da retirada das mamas, Kamila Urias Favarão, vivenciei a importância dessa experiência do “toque”. Como retirei as mamas e coloquei próteses, sentia o tempo todo um corpo estranho em meu corpo e aquilo me prendia e me amarrava. Após a fisioterapia, me sentia leve e cada vez mais fui perdendo a sensação de desconforto. Além da massagem que dava uma sensação incrível de bem-estar físico, eu sempre conversava com a Kamila, uma pessoa e profissional muito especial, totalmente identificada com o que fazia. Como resultado, no final do atendimento, a sensação de bem-estar era física e emocional. Sou muito grata por ter encontrado pessoas tão especiais em minha trajetória de libertação da doença. 

Deixe seu comentário sobre o assunto. Vamos trocar ideias e experiências. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Mastectomia e Reconstrução das Mamas



O Senado aprovou na semana passada um projeto que obriga o SUS (Sistema Único de Saúde) a realizar cirurgia de reconstrução dos seios em mulheres com câncer de mama logo após realizarem a mastectomia (cirurgia de retirada da mama). Eu passei pela mastectomia e, logo depois, pela cirurgia de reconstrução e sei o quanto isso é importante.

Hoje o número de mulheres com o diagnóstico de câncer de mama e que passam pela mastectomia é muito grande. Enfrentar a retirada das mamas para mim foi algo difícil, pois sei contabilizar minhas perdas: perda da sensibilidade do seio que é algo importante em um relacionamento íntimo, perda da imagem do meu corpo como era, constatar as marcas da cirurgia em meu corpo e encarar isso todos os dias. E eu sempre fui muito vaidosa!

A reconstrução da mama nos ajuda a superar essa perda e fazer foco no que ganhamos. Eu, por exemplo, ganhei um seio menor (tinha um seio farto) que ficou mais proporcional ao meu corpo e que deu a sensação que eu fiquei mais esguia; ganhei um seio mais firme e pude fazer coisas que antes não tinha condição, como usar vestido tomara-que-caia, colocar roupas sem usar sutiã, poder exagerar um pouco nos decotes, usar top na academia. Enfim, tudo tem os dois lados, por mais duro e difícil que seja.

Uma perda de uma parte do corpo não é apenas uma perda física, mas uma perda emocional. Uma perda daquela parte do corpo que também fez parte de sua história de vida. A palavra é forte, mutilação, mas temos que aprender a enfrentá-la com dor e com coragem. Para isso, cabe uma reflexão: “em uma situação, por pior que seja, sempre existem ganhos.”

Pense comigo: quem perde a visão desenvolve o tato. Quem perde a mobilidade de um lado do corpo com um derrame tem que desenvolver o outro lado para se apoiar e sobreviver. A cada desafio que enfrentamos, devemos nos perguntar: “O que perdi? O que ganhei?” Quando nos sentimos mutilados, é necessário uma RECONSTRUÇÃO FÍSICA E EMOCIONAL.

Se for possível a reconstrução com a prótese, trabalha-se a ideia de que você perde, mas coloca algo no lugar, o que dá uma sensação de conforto e de maior aceitação, em um primeiro momento. E essa reconstrução física nos ajuda na reconstrução emocional. Essa última reconstrução é mais demorada e mais profunda, porque vai exigir a busca dos nossos valores e do real sentido da vida. Ela nos leva a fazer foco mais dentro do que fora, ou seja, nos propicia um encontro mais profundo e significativo com a gente mesmo. Posso afirmar, com segurança, que foram muitas perdas, mas os meus ganhos foram muito mais importantes.

Você passou por essa experiência ou conhece alguém que passou? Compartilhe conosco! Deixe seu comentário aqui ou na página do Facebook