Minha experiência nestas duas semanas com uma infecção ao redor da prótese direita após quase cinco anos da mastectomia me fez parar todas as atividades e me deparar com desafios como febre, mal-estar, insegurança, internação.
Tudo começou há duas semanas, quando acordei com dor no braço direito e em volta da mama quando me movimentava. Fui para a aula de ioga pela manhã, mas não consegui fazer quase nenhum exercício e meu professor falou: “Só relaxa, Jamile!” Tomei duas aspirinas para tirar o mal-estar e trabalhei até a hora do almoço. A partir daí, não consegui e fui para casa. A sensação de dor e mal-estar foi aumentando até que fui para o pronto atendimento do Hospital Albert Einstein. O médico logo percebeu que uma mama estava bem mais quente e um pouco avermelhada. Foram feitos exames de sangue e um ultrassom, que confirmaram uma infecção.
Começaram os antibióticos via oral que duraram uma semana, mas sem um resultado compatível. Do cirurgião plástico, fui encaminhada para uma infectologista que, ao me examinar, recomendou internação imediata, pois a outra mama estava avermelhando também. Fiquei oito dias no hospital com antibiótico por via endovenosa de quatro em quatro horas, dia e noite. O índice de inflamação baixou muito lentamente, até que pude voltar para casa no dia 5 de novembro. No dia seguinte, fiquei em casa dando para o meu corpo e para minha cabeça o descanso necessário para recomeçar.
O que aprendi com a situação? Sim, porque tudo traz um aprendizado. Resolvi escrever até para ficar mais claro para mim mesma, para que eu consiga virar esta página. Aprendi que as coisas aparecem para testar a nossa FORÇA e a nossa FÉ. É tão fácil, no dia a dia, quando tudo está bem, falarmos tudo que acreditamos. Inclusive pelas postagens no Facebook que mostram muito de nossa forma de ser e do que acreditamos. E aí, quando nos deparamos com algo que não entendemos e nem temos controle, vamos ter que provar para nós mesmos se o que falamos é realmente para valer, ou seja, se agimos de forma coerente com o que dizemos.
Pensar, sentir e agir com coerência: esse é o nosso desafio diante das adversidades que a vida nos reserva. Aprendi que tem momentos que precisamos vivenciar a nossa dor e os nosso medos com toda intensidade e que chorar pode mesmo “lavar a nossa alma”. E teve um dia que chorei muito, pois estava me sentindo muito impotente. No dia seguinte, minha alma estava limpa e eu estava pronta para continuar a enfrentar a infecção.
Aprendi que, quando esquecemos a nossa dor e colocamos os nossos talentos a serviço de outras pessoas, tudo fica mais fácil. O tempo passa mais rápido e a energia que passamos para o outro em coisas tão simples, volta e nos dá força redobrada. Força para ouvir que o exame mostrou que a infecção abaixou muito pouco, que não podiam definir o tempo que ainda precisava ficar no hospital, que existia o risco de contaminar a prótese, enfim, todos os prognósticos negativos que também fazem parte da situação.Quando comecei a conversar com as enfermeiras ou técnicas de enfermagem do hospital, não importa, todas muito cuidadosas e atenciosas comigo, pude ver que tinham filhos que as preocupavam na escola e comecei a perguntar, trocar ideias e dar sugestões de como poderiam conduzir a situação. Todo dia tinha uma que me procurava para uma “consulta” e eu me via falando do que acredito e faz parte de minha missão de vida. Pronto, eu já estava melhor, mais animada para enfrentar aquele dia e as próximas horas. Fui distribuindo cartões até que acabaram e fiz isso com muito amor.
Aprendi que quando temos empatia com o profissional da área da saúde que nos atende fica mais fácil enfrentar a doença. A Dra. Vívian Avelino, infectologista do Hospital Sírio Libanês, foi uma pessoa chave em todo processo que vivenciei, pois me deu segurança, tranquilidade pelas atitudes seguras e amorosas com que me acompanhou todos os dias, inclusive no sábado e domingo. Ainda não estou 100% curada, mas tenho certeza, que virarei mais esta página com a ajuda dela. Ela foi excepcional como ser humano e como profissional e descobrimos algo em comum: nós duas amamos o que fazemos e isso nos uniu muito. Eu, particularmente, adoro ver jovens como ela se dedicarem a uma profissão como a medicina com competência e amor!
Aprendi que a família e os amigos fazem a diferença nesses momentos. A quantidade de telefonemas, e-mails, visitas e orações que recebi, com certeza, me abasteceram para enfrentar o período no hospital até o fim, sem desanimar. Meu marido foi o meu companheiro de todos os momentos e apesar de extremamente preocupado, ficou firme ao meu lado, me ministrou Johrei, todos os dias e isso me fortaleceu por dentro, pois neses momentos eu me conectava com o DIVINO e a meditação fluía fácil e levemente. Meus dois filhos sempre presentes, minhas noras e meus amigos queridos estiveram junto comigo em pensamento positivo e oração.
Escrevi tudo isso para desabafar e até para entender melhor o porquê de estar passando por isso e conclui que, na hora que acontece, nem sempre entendemos. É preciso passar um tempo de maturação para que o nosso espírito assimile e aí vem a LUZ. Foi assim que aconteceu nas quatro vezes que enfrentei o câncer. E acredito que essa explicação chegará no tempo certo. Sou grata!