segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Autoestima X Mastectomia



No dia 26 de julho, o Globo Repórter mostrou mulheres que encontraram na dança do ventre uma maneira de recuperar a autoestima e o ânimo após a mastectomia. Isso me motivou a falar sobre a minha experiência em relação à autoestima após a mastectomia. Qualquer doença chega em nossas vidas para nos mostrar que algo precisa ser mudado, para levar a nossa atenção para dentro, mesmo que o sinal seja do lado de fora. E eu que sempre fui muito vaidosa e gostava do meu corpo, sentir que perdi parte dele foi algo difícil, devo admitir. Principalmente os seios, que, para a mulher, é o símbolo da feminilidade e acho que também da sensualidade.

Eu continuei minha vida. Não perdi as pernas que podiam me levar para onde queria, nem meus braços que me permitiam fazer inúmeras coisas em meu dia a dia, mas perdi algo que me fez olhar pra dentro, sentir e aceitar todos os sentimentos contraditórios que existiam dentro de mim. Sentimentos de perda, de insegurança, de medo.

O processo de aceitação exige que nos livremos de nossas máscaras, aquelas que usamos para nos sentirmos amados e que trazemos desde criança. A minha foi a máscara da “Poliana”, que queria tudo fosse maravilhoso, com excesso de otimismo, que não tinha coragem de dizer “não” para as pessoas e que queria ter todas as atitudes certas nas horas certas para não magoar ninguém. A máscara para não mostrar sentimentos “errados e feios”, como a raiva, o medo, a tristeza...

Vocês acreditam que, para aceitar que eu tinha raiva, precisei de um bom tempo de terapia e coragem para olhar pra dentro, descobrir e depois de muito sofrimento, conseguir admitir que ela existisse dentro de mim? A tristeza também era um sentimento que não existia em minha vida, salvo raríssimas exceções. Sabe por quê? Meu excesso de otimismo não deixava espaço para minha tristeza aparecer. E na primeira vez que tive câncer de mama, eu não lidei com a minha tristeza, mas com a daqueles que estavam à minha volta e me queriam bem (meu marido e meus filhos). Meu Deus, que falta de coragem!

E assim, aconteceu na segunda e, na terceira vez, fiz a mastectomia. Tudo isso para me mobilizar a ter coragem e tentar entender o que estava acontecendo. E foi preciso muita terapia para mexer onde doía, pois antes eu sequer admitia que existisse a dor. Eu fugia dela, com muito medo de me perder.

Fui aprendendo que quando você consegue encarar o que acontece e “tocar o dedo na ferida” começa um processo de libertação. Vamos desfazendo os nós dentro da gente e nossa alma vai ganhando força e liberdade. Começamos realmente a ter uma “autoestima real”, baseada no que temos por dentro e não aquela apegada ao que temos externamente que, com o tempo, inexoravelmente, vai mudando. E aí descobrimos que toda a força que precisamos para vencer a doença, assimilar as perdas e continuar a luta está dentro de nós. E descobrir isso é algo incrível, grandioso demais!

Neste momento, surge muito forte a certeza de que Deus está dentro da gente e que nada irá nos derrubar. Este lado espiritual aparece de forma nítida e nos mostra que somos um ser humano integral: corpo, mente, coração e espírito. E que não precisamos ter medo, porque nada termina aqui. Que ciclos se encerram, mas a vida continua; que somos seres espirituais tendo uma experiência humana, como já li uma vez. Neste momento, o medo vai embora e o nosso processo de libertação prossegue. 

A cada passo que damos neste processo ganhamos consciência de que a nossa LUZ deve brilhar e iluminar a nossa vida e a de todos que estão à nossa volta e também a de todos aqueles que cruzam o nosso caminho por algum motivo. Mais uma vez a força interna vai se solidificando e entregamos a Deus e ao Universo o que acontecerá em nossa vida procurando viver o momento presente inteiro, de corpo e alma.

E foi a partir deste sentimento que nasceu o Projeto Chama Acesa, com o objetivo de compartilhar minha experiência, falar dos meus medos, da raiva escondida que se transforma na doença. Acredito realmente que o câncer tem muito a ver com estilo de vida (corpo, alimentação e estado de espírito) e que a doença foi um processo de libertação da minha essência. Hoje, tenho consciência que cuido melhor do meu corpo com exercícios físicos regulares (Pilates, Ioga e caminhadas) me alimento melhor com a orientação de uma nutricionista e, principalmente, cuido com carinho do meu estado de espírito, procurando expressar o que realmente sinto no aqui e agora. 

Posso afirmar, com segurança, que estou feliz comigo mesma, por dentro e por fora, com uma autoestima verdadeira que o tempo não vai me tirar, pois ela aparece no brilho do meu olhar e no desejo que eu tenho de viver. Agradeço a experiência que passei e a dádiva de estar cumprindo a minha missão com luta e consciência!

Nenhum comentário:

Postar um comentário